A ética e o amor no
comportamento humano.
Por definição o homem é um ser consciente e responsável. A coerência desse
modo de ser elevada à última potência deverá
conduzir a um comportamento ético. Na
prática, os procedimentos inerentes
acabam elegendo normas cujo
cumprimento cerceia as manifestações de egoísmo das pessoas no convívio social.
As regras eleitas passam a ser, então, a base de uma pedagogia manipulável
mediante gratificações e punições oferecidas e impostas, respectivamente, no sentido
de estimular condutas desejáveis e coibir as indesejáveis, em benefício de uma
convivência pacífica. Mas quando o homem vive na plenitude de sua capacidade
racional, de sua sensibilidade emocional e da própria vontade é levado a agir
solidariamente; fazendo empatia com seus pares
e vivendo visceralmente um “nós comunitário” vai além da simples
obediência aos cânones éticos direcionados primacialmente à obrigação de
respeitar o bem do outro. Uma alma evoluída ama o seu próximo como a si mesma,
e dessa forma se capacita a elaborar suas próprias leis. Nesse sentido
alinha-se à afirmação de Santo Agostinho quando disse: “Ama e faze
o que quiseres”. Essa orientação está relacionada à prática do amor-caridade
que implica necessariamente na realização do bem estar do outro, ou seja, na
prática de ações espontâneas resultantes do exercício da empatia, comum na vida
de muitos santos, e que representa a mais elevada forma de darmos testemunho de
nossa própria humanidade. Em face de o comportamento empático não ser frequente
como tendência natural determinante, verifica-se a necessidade de disciplinar a
conduta das pessoas o que torna indispensável
a imposição do exercício de normas éticas cujo descumprimento expõe o infrator
a punições determinadas pelo Estado de direito chamado a policiar as relações interindividuais
numa sociedade organizada. Ou seja, quando não prevalece o comportamento
empático amoroso impõe-se a intervenção de uma autoridade externa mediante
aplicação de códigos legais para controlar a ação dos indivíduos no convívio
social. Ai está a diferença entre a visão ética e a leitura existencial
empática da conduta solidária dos que integram o grupo social humano. A visão
ética é policialesca, enquanto a amorosa (empática) emana do sentimento de
identidade entre as pessoas que compõem a coletividade. Não é certo, porém, que
a imposição da prática do dever moral possa levar por si só à realização
pessoal do amor ao próximo, todavia, somente
a vivência deste amor solidário é capaz de transformar os indivíduos. Quando isso acontece é por virtude de um salto
de qualidade na evolução do homem, o que caracteriza uma verdadeira conversão.
O comportamento normativo (ético) é voluntaria e formalmente virtuoso, porém
não necessariamente empático (amoroso); nele impera o respeito ao outro pela
submissão a uma coleção de leis, e não pelo amor, embora, convenhamos, o
respeito venha a ser o primeiro passo na direção do amor. A diferença
fundamental é que na conduta amorosa propriamente dita há um envolvimento
cognitivo afetivo harmonioso, absorvente, entre as pessoas; ao passo que na
conduta apenas ética existe em perspectiva a espera de um ganho, ou o temor de
uma privação que alimentam o esforço comportamental para uma convivência
harmoniosa. No primeiro caso (conduta amorosa) o homem é livre, não há amor sem
liberdade; no segundo, os pares estão sob a tutela (submissão) de códigos legais
que protegem a harmonia social. A disponibilidade de cada um para a doação de
si mesmo inerente à prática do
amor-caridade é que liberta o homem do medo, inclusive de sua própria morte.
Daí porque dizemos que só amando o bem do outro o homem é verdadeiramente livre.
Tomando a prática do amor caridade como o ápice da perfeição humana
evidencia-se que o homem nasce com a capacidade de amar, porém deverá
desenvolver esse talento mediante disciplina pessoal envolvendo o domínio das
tendências egoicas que se insinuam espontânea e insistentemente. No caráter
evolutivo do homem está implícita sua própria perfectibilidade, capacidade que envolve
a administração competente de todas as funções psíquicas superiores do ser consciente
(consciência reflexiva, sentimento e vontade) exigidas na prática do
amor-caridade.
Todas as mazelas que afetam a humanidade decorrem de tropeços na
dinâmica psicossocial que obstruem de
forma pessoal e estrutural a prática do
amor-caridade.
Em resumo o amor-caridade é necessariamente ético, mas a moralidade das
relações humanas não é necessariamente amorosa.
Everaldo Lopes
Olá Dr. Everaldo Lopes.
ResponderExcluirParabéns pelas palavras, gostaria de ver uma publicação sua sobre tecnologias se possível.