A vivência romântica resulta
da resposta amorosa a um estímulo que comove sobremodo a sensibilidade afetiva
e a imaginação. Geralmente envolve a estética, reflexo do belo universal revelado
num detalhe da realidade que nos cerca. A experiência romântica é despertada, entre
outros estímulos, ora pela harmonia de uma composição musical, ora pelo jogo de
cores de uma tela, ora pela plástica do perfil humano, ora pela delicadeza do
comportamento cortês. Característica da comoção romântica é a purificação da
libido pelo encantamento diante das formas perfeitas que povoam o mundo
sensível. Tomemos como exemplo emblemático da vivência romântica a que suscita
a beleza plástica e sincronia coreográfica de um par de bailarinos movendo-se
com a leveza de uma pluma, ao som de acordes inspirados!
A vivência romântica da
intuição do belo absoluto é como um “transe” que não implica a excitação
erótica, nem exclui o erotismo delicado equivalente a um beijo inocente. É uma
experiência juvenil, vibrante, porém nada agressiva. Algo assim como um sonho
bom que se gostaria de prolongar e dar-se-ia a vida para eternizá-lo, mas sabe-se
que é passageiro como a própria vida. Poder-se-ia viver esta experiência
durante toda uma vida sem jamais esgotar suas nuances emocionais ao mesmo tempo
sensuais e virginais. Mas esta vivência pode exaurir-se num instante fugaz
quando submetida aos tropeços da relação de casais.
Um elemento constante na experiência
romântica é a sedução do eterno feminino, a essência do feminino simbolizando
toda beleza que a Natureza pode exprimir com inesperada sutileza, provocando um
deslumbramento que teme revelar-se para não poluir-se, tão delicado que não
resistiria à rudeza de uma aproximação física lúbrica, nem mesmo a um
pensamento erótico explícito! Tão puro quanto a vivência que evoca num
adolescente a imagem angelical da jovem que inspirou seu primeiro amor.
De forma surpreendente
constatamos que não há um ícone do eterno masculino porque a beleza do
masculino é virtual, uma realidade configurada em nuances originais porém efêmeras.
A mulher encanta por seu “ser” integral; o homem seduz por atributos ornamentais.
Não obstante essas diferenças, a experiência romântica que enriquece o par
humano é Igualmente pura para ambos, em qualquer idade, enquanto pulsa no espírito o ideal de perfeição. Todavia
para o homem esta experiência é uma empolgação cavalheiresca criativa; e para a
mulher representa mais uma curiosidade receptiva cuja emoção envolvente implica,
sem roubar-lhe a pureza sentimental, junto com o afeto e a receptividade também
ressonâncias emocionais equivalentes à expectativa de um “predador” diante da
aproximação de sua presa.
Privilegiando a
sensibilidade e a imaginação, para o homem a postura romântica é uma rendição da
razão; e para a mulher uma exaltação do devaneio e da possessividade,
predicados que lhe são próprios, lapidados culturalmente ao lado de sentimentos
nobres. Contudo em ambos os casos, por explorar a sensibilidade e a imaginação
a experiência romântica é mais calorosa e emocionalmente expressiva do que o
prazer intelectual da descoberta estritamente racional. Por isso a experiência
racional é mais solitária e menos inclusiva! Por sua natureza poética a
vivência romântica ameniza a rigidez racional e predispõe a maior flexibilidade
crítica diante das imperfeições humanas. O indivíduo envolvido numa experiência
romântica fica mais propenso a compreender e a perdoar, valorizando menos o
caráter racional do enfoque lógico critico e condenatório na abordagem da
realidade objetiva.
Lamentavelmente, a prática
social poluída pelo egoísmo expõe a benevolência do romântico ao assédio dos
inescrupulosos. Todavia a credulidade do romântico diz respeito ao objeto de uma
experiência especifica. Sua credulidade não exclui a lucidez que fica embaçada
na vigência da paixão. Do que se conclui que nem todo romântico é apaixonado, e
o apaixonado pode estar muito longe de ser romântico.
Everaldo Lopes