segunda-feira, 30 de setembro de 2019

E antes do big-bang ?




Tudo que dissemos na publicação anterior intitulada “O UNIVERSO TAL QUAL O VEMOS” diz respeito  à realidade mensurável  diante da qual nos colocamos. Mas o big bang que inaugura a dimensão material do Universo conhecido representa apenas um momento crucial da caminhada evolucionária que, finalmente, ensejou no homem o exercício da consciência  reflexiva. O big bang foi uma explosão inigualável, sem dúvida, mas explosão do que(?).  Pode-se insinuar, hipoteticamente, a possibilidade da explosão de um buraco negro, uma super condensação de matéria, tão intensa que sua força de gravidade não permite escapar  sequer um raio de luz, tornando-a invisível (a matéria superconcentrada). Mas isso não é tudo. De onde veio esta matéria? Aqui nos deparamos com um problema metafísico. O que existiria antes do aparecimento da primeira partícula subatômica?  Escapa-nos a menor ideia sobre o que havia antes disso, necessariamente algo que ultrapassa a percepção dos nossos sentidos. Para encher esse mundo imaterial introduzimos no nosso vocabulário o conceito de espírito, como uma entidade superior que dispensa a matéria. Algo que não se pode medir nem avaliar quantitativamente, que não tem realidade palpável e que só reconhecemos pelos seus efeitos. Todavia continuamos ignorando como se deu a formação da primeira partícula material.
 No seio da doutrina criacionista (que se prolonga no evolucionismo), o espirito está em tudo, mas só no homem ele se manifesta através de funções complexas específicas como a inteligência, a consciência reflexiva, a memória descritiva de experiências anteriores. Só a organização complexa do sistema nervoso central do homem permitiu, no curso da Evolução, a manifestação do espírito eternamente presente em tudo, capacitando-nos, os homens, para a organização de uma linguagem comunicativa rica de recursos expressivos. No padrão místico do texto bíblico o espírito diz respeito a uma entidade imaterial que pertence ao mundo sobrenatural. Ora, sendo imaterial o espírito é indivisível, mas é capaz de refletir a realidade em pormenores, demonstrando em si, essencialmente, a capacidade de sensibilizar-se vivenciando a verdade do nosso conhecimento sobre o mundo em que vivemos e experimentando o “amor ao próximo”.
 Na intimidade do espírito puro somos todos um; prevalecerá, então, a harmonia absoluta. Mas ao manifestar-se no homem o espírito sofre as restrições impostas pelo atavismo animal inerente à biologia humana que  ameaça toldar as manifestações espirituais, com a expectativa dos prazeres da carne que seduzem através da tentação do gozo imediato. Ora, sendo o espírito eterno e imutável  será a vivência de sua harmonia absoluta que cada um de nós há de experimentar quando se libertar, após a morte biológica, da roupagem  material indispensável  à sua manifestação no tempo. Imagino que no mundo espiritual só cabem as vivências construtivas de verdade,  bondade e  beleza. Se o espírito sobrevive às manifestações biológicas, ao livrar-se da dimensão corporal guarda apenas as vivências construtivas que experienciou durante sua permanência temporal. Ainda como consequência do argumento tomista (o mal é a ausência do bem)  o mal não tem lugar fora do mundo temporal, pois, definido como a ausência do bem não cabe no puro espírito onde só prevalecem o amor, a paz e a criatividade de valores positivos. No espírito dos que, ao monitorar a existência humana, não experimentaram as  vivências construtivas de verdade e amor fraterno certamente elas, as virtudes  construtivas, permanecem como possibilidades insatisfeitas. A consciência dessa insatisfação permanente é o background de uma caminhada inglória! Só o amor constrói para a eternidade. Que inferno pior do que caminhar eternamente para nada? A doutrina espírita contorna o problema da perfectibilidade do humano introduzindo o conceito de reencarnação do espírito em vidas subsequentes, até alcançar a perfeição que lhe é inerente. O pensamento cristão que defendo é compatível com a integração da alma humana no seio do spírito eterno; uma vez  que há um só espírito.
Numa perspectiva espiritualista a morte como aniquilamento total não existe, pois, o espírito sobreviverá às suas manifestações temporais, purificado, ao participar das primícias da eternidade. Alcançado o patamar superior da existência ou modo de ser próprio do homem, o prolongamento da vida biológica, indefinidamente, redundaria na privação de uma experiência inexcedível de liberdade, criatividade e integração com o absoluto criador, sem qualquer interferência material.

A incerteza do que está por vir após a morte biológica enseja o maior de todos os medos que acometem o homem. Mas a infalibilidade da perfeição do Criador  garante ao homem superar sem traumas o medo de morrer. Acabamos por entender que a ideia  de tudo terminar com o fim da vida biológica é incompatível com a definição de um Deus criador, e no fim o Espírito (eterno) reinará como um absoluto. Ora, sendo o Criador, necessariamente, um absoluto, nada mais existe fora d´Ele. Ele é o princípio e o fim de tudo que existe ou poderá existir. Mas só se capacitam disso durante a existência temporal os homens que em sua vida biológica não se deixaram vencer pelo atavismo animal e viveram com intensidade o amor à verdade e a solidariedade entre seus pares.
A evolução da matéria até e emergência de um ser consciente reflexivo aponta para a caminhada evolutiva em busca de uma ordem crescente, o que remete a uma consciência eterna, ordenadora, inerente ao Deus criador -  um absoluto - princípio e fim de tudo quanto existe. Pois uma ordem crescente no processo evolutivo implica numa intenção prévia, e não há intenção sem consciência, no caso uma consciência universal. Por definição, nada existe fora do absoluto; este absorve o tempo, de modo que nele não há passado nem futuro, tudo é presente eterno, infinito. O homem é um projeto perfeito de organização da matéria, mediante a complexificação crescente desta matériaT, que ensejou a vida consciente - manifestação do espírito - necessária para o exercício do amor e da solidariedade, virtudes indispensáveis à sobrevivência do homem e ao prolongamento da Evolução.

Everaldo Lopes