Ao som
do Hino Nacional
milhões de brasileiros sentem um arrepio de patriótica
emoção. Eles amam o seu torrão natal e se
entusiasmam com as conquistas
da pátria amada. Otimistas, trabalham com afinco para garantir o sustento seu e
da sua família .
São pacíficos, mas lamentam a dificuldade
para matricular
o filho na Escola
Pública, e revoltam-se ao ouvir a queixa da esposa
de haver esperado horas na fila do SUS para um atendimento especializado. Ganham pouco , mas , apesar de tudo isso , não
abandonam os seus princípios de honradez
e solidariedade . Esses brasileiros fiéis são
exemplos de paciência cívica na
tentativa persistente de praticar a cidadania apesar das dificuldades
circunstanciais. Periodicamente votam nos
candidatos que
lhes parecem mais
honestos e competentes. Na verdade ,
tudo que
sabem sobre eles
é o que a mídia
deixa passar , pró
ou contra
os postulantes aos cargos eletivos . E, lamentavelmente, a malha desse filtro de
informações é determinada mais por interesses corporativos do que pelo
compromisso com a verdade. A propaganda eleitoral assessorada por marqueteiros regiamente
pagos apresenta os candidatos como exemplos de competência e espírito público.
Depois os eleitores constatam que estes candidatos após a vitória nas urnas esquecem
as promessas de campanha. Uma vez eleitos
e empossados eles protagonizam comportamentos autopromocionais na expectativa de se reelegerem no próximo
pleito . Esses falsos homens públicos subestimam
a inteligência do eleitor
e confiam na memória curta da massa
votante. Não raro
acertam, e quatro anos depois tudo se
repete do mesmo jeito: as promessas de palanque ,
o esquecimento dos compromissos de campanha, e a decepção
do eleitor , logo
esquecida, mais uma vez .
Estes brasileiros fiéis que teimam em esperar por melhores dias voltam às urnas
com renovada esperança ,
malgrado os maus
tratos a que
os sujeitaram as administrações
incompetentes e perdulárias dos mesmos candidatos que
ajudaram a eleger no passado
e se apresentam agora para novo mandato. Embora fiel ao protocolo democrático esse
comportamento do eleitor revela certa ingenuidade, mas também a falta de garra
ou de meios para fiscalizar e exigir conduta exemplar dos gestores públicos. Aliás, atualmente a prática democrática em
nosso país está sendo desmoralizada pelo próprio governo através da compra escamoteada de votos
mediante a concessão de “bolsas” distribuídas entre as pessoas economicamente
marginalizadas. Procedimento legítimo que perde seu poder transformador quando
não exige nem fiscaliza a contrapartida necessária para assegurar a eficácia do
benefício na promoção do desenvolvimento humano do beneficiário. Essas bolsas passam,
então, a atender fins puramente eleitoreiros. Não educam, apenas ajudam a
reeleger os que reivindicam a paternidade dessa pequena ajuda financeira. Momentaneamente,
a injeção na economia de bilhões de reais através da concessão das “bolsas” dá
lugar à falsa impressão de crescimento econômico, pela ampliação do mercado
consumidor. Mas esse aumento de consumo não representa real crescimento
econômico. O Governo não consegue segurar por muito tempo a grande mentira,
enquanto a incompetência de sua gestão envolvida em escândalos de corrupção o
distancia mais ainda dos interesses do povo. De repente ,
esguicham por todos
os canais de comunicação
de massa , notícias
lamentáveis de toda
espécie de irregularidades dentro e fora
do governo. Atônitos, os brasileiros bem intencionados que
sonham com um
Brasil desenvolvido são sacudidos por avalanche de notícias
deploráveis sobre
a real situação do país, muito aquém da que o governo anuncia. Já não é possível esconder a corrupção que se
alastra, sorrateira ou
explicitamente, em todos
os escalões dos poderes constituídos. A mesma corrupção denunciada
em campanha eleitoral pelos que fazem o Governo atual, e que
não estancou depois
da investidura no poder dos supostos arautos de uma “nova ordem.” Ao invés da
renovação anunciada, as instituições
ditas democráticas continuam se deteriorando, corroídas pelas mentiras embutidas em manobras
escusas envolvendo executivos e legisladores. Aqueles brasileiros esclarecidos que
não se deixam comprar com benesses ficam perplexos ante o dever cívico de
escolher nas urnas homens públicos responsáveis. É evidente a inconsistência
ideológica dos partidos e a falta de líderes autênticos identificados com um
projeto nacional de desenvolvimento. Esse panorama não dá lugar à expectativa
de mudanças salutares do quadro político atual. E é preocupante vislumbrar o caos ao qual o país está sendo levado pelos vivaldinos
de plantão que
são muitos, despudorados e cheios de ardis. Impõe-se dar corpo ao protesto do
povo usurpado em seus direitos, mediante uma campanha nacional que acelere o
amadurecimento político da nação brasileira. Porém todos sabemos que esta
maturação não acontece de repente, depende da conjugação de muitos fatores. É
um processo longo que demanda educação continuada desde a família, passando
pela escola com o respaldo da sociedade organizada. Faz parte deste processo o
expurgo efetivo dos candidatos de ficha suja, vedando o registro dos seus nomes
para a concorrência eleitoral, além da punição severa pelos atos de corrupção
já praticados. Paralelamente, os brasileiros esclarecidos imbuídos do ideal
democrático deverão sair da sombra do anonimato, expondo-se à ocupação dos
espaços que se abrirem na administração pública. Isso exige conhecimento,
coragem e determinação dos democratas autênticos. Os obstáculos são enormes. A corrupção a varejo que infelicita os países pobres é sucursal
da corrupção por
atacado , capitaneada pelo
crime contra
a humanidade embutido na exploração dos países
ricos sobre
os povos subdesenvolvidos .
Além das dificuldades internas, as nações subdesenvolvidas estão expostas às
manobras de exploração das grandes corporações econômicas multinacionais, e à dominação política internacional dos países
ricos. É cruel a flagelação a que se
expõem populações inteiras privadas de alimentação , abrigo , saúde , educação e emprego ,
enquanto crescem os privilégios desfrutados por uma minoria! As nações
pobres , economicamente manipuladas na
negociação de uma dívida externa impagável são
induzidas a sacrificar investimentos
básicos que lhe são essenciais. Todavia, obrigam-se a fazer uma reserva financeira
a fim de garantir o pagamento dos juros de uma dívida fabulosa escravizante.
Olhando o
cenário internacional cada vez mais sobressai a certeza de que a persistir a política econômica
vigente, inspirada na competição aética ,
o agravamento da má distribuição de renda e de condições de vida, levará a humanidade
a um caos social
vizinho da barbárie .
O que representa em longo prazo uma ameaça à sobrevivência da espécie humana. Oxalá
as nações ricas e pobres se compenetrem de que
a política econômica
global inspirada nos
paradigmas capitalistas
é suicida. É necessário deter a ganância desavergonhada dos donos do capital.
Se a fúria do ágio não for contida, os
excluídos famintos e ignorantes hão de desenvolver reação irracional que porá
em perigo tudo que a humanidade construiu até o momento. Por menos exequível
que pareça reverter o processo socioeconômico que está sufocando a humanidade,
é preciso dizer
“não” à competição aética substituindo-a
pela cooperação inteligente; é preciso dizer “não” ao acúmulo injusto
de riqueza nas mãos de poucos, em prol da partilha equânime
dos bens da Terra entre todos os homens.
É possível conter a agressividade do ágio sem prejudicar o progresso científico
e tecnológico. Também nessa área a cooperação é mais enriquecedora do que a
competição exclusivista.
Toda
turbulência econômica, social, política e existencial reflete a dificuldade
humana de ser cooperativo e veraz por escolha e decisão pessoais no exercício
da consciência livre e responsável.
Na medida em que somos todos responsáveis no
processo de humanização, a grande revolução cultural em favor da justiça social
e da solidariedade indispensáveis à sobrevivência da espécie demanda a
participação inteligente, efetiva e ética de cada um de nós, consolidando o
comportamento cidadão.
Everaldo Lopes