Acompanhei pela TV
Senado a votação que escolheu o Presidente da Câmara alta. Senti imensa revolta
diante do resultado vergonhoso. Durante o processo eletivo os senhores
senadores desfilaram pela tribuna desta casa, tentando justificar o seu voto. A
maioria esmagadora dissimulando suas razões escandalosamente corruptas, em
esquálidos apelos à letra da Constituição e ao que preconiza dispositivo
interno da Casa legislativa. Todos, argumentos inconsistentes ou, no mínimo
irrelevantes, tendo em vista a responsabilidade da escolha que se fazia naquele
momento, perante o povo brasileiro que merece e espera o respeito dos seus
representantes. Que, palhaçada! Salvo o
registro de alguns depoimentos de valorosos Senadores que alto e bom som se recusaram
a fazer coro com a maioria apodrecida da mais alta Câmara legislativa da União.
Recusaram-se a sufragar o nome de um político moralmente deformado que enodoa a
história política do nosso país e alguns foram mais longe denunciando-o perante
a Nação. Os poucos briosos Senadores que disseram “não” à corrupção,
representaram naquele momento a última esperança de brasileiros indignados como
eu me declaro agora.
Lamentavelmente a
Democracia, regime político que melhor atende aos ideais humanísticos, baseado
no exercício responsável da liberdade consciente, não tem instrumentos
eficientes e rápidos para coibir a corrupção. Tudo depende de como cada um corresponda
às responsabilidades impostas ao cidadão. Alguém poderia lembrar neste momento
o poder do povo organizado numa mobilização maciça contra os descalabros dos
gestores e legisladores eleitos. Mas basta aprofundar um pouco a análise da
questão para perceber que os obstáculos ao bom desempenho do regime democrático
estão na fragilidade da própria natureza humana. Seja candidato ou eleitor é no
homem que começam todos os males sociais, quando ele abdica da dignidade de que
se reveste como ser consciente e responsável. A doença moral contagia
insidiosamente todas as etapas do processo democrático. Desde o nível da consciência
pública dos candidatos e da massa votante, até a votação em si, envolvendo
mecanismos práticos para exprimir a escolha dos cidadãos e apura-las,
quantitativamente. São fatores decisivos para a deturpação do processo a má fé,
a falta de princípios éticos a ignorância e descompromisso dos eleitores e dos
candidatos, em relação ao bem comum. Uma imensa parcela de eleitores se escusa
de não votar em homens mais preparados, que melhor atendessem aos interesses
coletivos pela falta de candidatos com as aptidões exigidas. Nestas
circunstâncias muitos eleitores acabam elegendo pessoas despreparadas e sem
caráter, segundo o critério do “menos ruim” sobre quem geralmente só se conhece
o que o comitê partidário deixa passar, camuflando os aspectos duvidosos do seu
caráter numa propaganda eleitoral enganosa. Enquanto outros eleitores não
conseguem desvincular seu voto dos próprios interesses imediatos,
caracterizando a voto por conveniência que visa apenas vantagens pessoais ou de
grupos corporativos. Para isto contribui a frouxidão moral de candidatos e
eleitores, as más condições econômicas, e o individualismo generalizado,
culminando tudo na falta de espírito público. Assim, por caminhos diversos o
governo do povo pelo povo e para o povo se transforma no governo contra o povo.
Esta inversão de valores caracteriza uma aberração politico social escandalosa
de consequências prejudiciais incalculáveis para a própria sociedade. Uma
situação que representa, historicamente, o suicídio lento da democracia! É uma
pena que muitos dos que estão envolvidos neste retrocesso como corruptos e
corruptores não se deem conta claramente de estarem praticando um crime contra
a humanidade ao abrir mão da dignidade que lhes é conferida pela condição de “ser”
consciente e livre, responsável pelas escolhas que faz ao longo da existência! Todavia
sobrepondo-se ao opróbrio de viver sob uma farsa democrática, sufoca-nos um
grito de revolta quando presenciamos um delito praticado intencionalmente por pessoas
eleitas para conduzir os destinos do nosso povo. O procedimento imoral torna-se,
então, uma aberração escandalosa de consequências maléficas para o futuro da
Nação. É lamentável que esta desgraça esteja acontecendo entre nós. Somos
duzentos milhões de almas expostas à cupidez de homens ambiciosos e
despudorados, que por isso mesmo não são dignos da confiança dos seus
compatriotas. Todavia é bom lembrar que
eles foram postos lá pelo voto popular esteio da República Democrática pela
qual lutamos patrioticamente!
Everaldo Lopes