A ideia que a atividade
sexual está ausente na terceira idade é muito difundida. Todavia, a demanda
sexual dos idosos sadios diminui, mas permanece. Estatísticas confiáveis
revelam que 90% dos homens de sessenta anos continuam sexualmente ativos. Os
mesmos estudos dão conta de que 70% dos maiores de setenta e cinco anos e 50%
dos nonagenários conservam o interesse sexual, embora apenas 15% dentre eles sejam
sexualmente ativos. Segundo estudiosos do assunto, não obstante a redução da
atividade sexual na terceira idade, a sexualidade do idoso continua intacta e
prazerosa. Certamente a “crença” difundida sobre a negação da sexualidade no
idoso deve-se a que vulgarmente considera-se apenas a sexualidade consumada no coito.
Esta visão ignora outras práticas que preenchem o conceito científico de
sexualidade. A literatura especializada define-a como a “disposição corporal e psíquica para responder com prazer aos estímulos
adequados que podem chegar ao coito e ao orgasmo, porém não necessariamente.”
Entre os idosos as carícias e toques que satisfazem a libido são práticas sucedâneas
que atendem a esta definição. Portanto não se pode negar a sexualidade entre os
idosos, apenas por dificuldades eventuais ou persistentes no coito. Não
obstante, se a sociedade conserva uma imagem desfavorável do perfil sexual dos
que ultrapassaram a meia idade, e as pesquisas estatísticas que mostram uma
realidade diferente não são amplamente divulgadas, os idosos se sentem desamparados
para manifestar sua libido. Assim, a falsa informação adversa acerca do
comportamento sexual humano após os 60 anos ensombrece o ânimo dos homens e
mulheres da terceira idade, condenando-os à conformidade, e induzindo-os a
esconder seus desejos para não se exporem à crítica pública. Conduta
que empobrece desnecessariamente a perspectiva existencial dos maiores de
sessenta anos.
É óbvio que o idoso
continua sensível aos padrões de beleza estética da juventude; equivoca-se,
porém, ao associar sua sexualidade às práticas inerentes aos anos da
adolescência e maturidade física. Este engano seria patético. Mas, a coerência
crítica do idoso consciente de suas limitações o protege contra o enleio em
fantasias impróprias para sua idade; e o predispõe a conviver com as mudanças inevitáveis
do seu comportamento sexual, sem constrangimento diante do envelhecimento do próprio
perfil corporal e dos seus pares. A maturidade psíquico-afetiva conquistada com
a experiência caminha paralelamente à vivência espiritual da existência,
apoiada em valores universais. Isto implica num refinamento da libido que
permite admirar a beleza estética do homem e da mulher sem o apelo erótico
exigente!
É sabido que em ambos os sexos o coito se
torna progressivamente problemático com a idade; no homem por dificuldades na
ereção, e na mulher pela falta de lubrificação e estreitamento vaginal
decorrentes da ausência dos hormônios femininos estrogênicos, após a menopausa.
Porém estas mudanças fisiológicas e anatômicas são progressivas, e evoluem com
ritmo e intensidade diferentes de um indivíduo para outro. Quando o problema se torna incapacitante está
indicado, opcionalmente, o uso de drogas que prolongam a ereção, e a reposição
hormonal cuidadosamente controlada por médico especialista, para anular os
efeitos da deficiência estrogênica. Estas providências podem contornar as
dificuldades referidas, mas não rejuvenescem, nem são essenciais para a
manifestação da libido; portanto a sua prática deve ser submetida a uma
avaliação crítica objetiva da realidade, até porque tais procedimentos só valem
a pena quando existe sintonia afetiva na interação do casal.
O comportamento sexual humano
sofre influência de fatores coadjuvantes para o melhor ou pior desempenho. Entre
estes fatores sobressai a inexistência de parceiro/a por morte de um dos
cônjuges, ou separação dos casais. Porém mesmo em relacionamentos oficiais
estáveis, muitos casais idosos podem até aparentar sintonia aceitável, mas
vivem realmente um distanciamento psíquico afetivo irredutível que equivale a
não ter parceiro algum! Este geralmente é o desfecho de um casamento que não
chegou a ser um verdadeiro encontro existencial. Como se vê, a atividade sexual
na terceira idade sofre muitas influências psicossociais. Mas, também interferem na sexualidade dos idosos as
características biopsíquicas dos pares sexuais[1] e a influência
negativa dos transtornos vasculares, decorrentes do Diabetes e doenças
sistêmicas mais incidentes nessa faixa etária, obrigando ao uso de medicação específica
que influi na resposta sexual.
O aumento da expectativa
de vida está fazendo crescer o interesse pelo assunto de que tratamos aqui. Nos
últimos 20 anos aumentou o número de idosos que buscam ajuda para melhorar o
desempenho sexual. Esta demanda superaquecida tem sido explorada economicamente
pela indústria farmacêutica e por charlatães inescrupulosos com ou sem
titulação profissional.
Sumariando, o exercício
exemplar da sexualidade humana envolvendo fatores biológicos, psicossociais e
culturais é problemático em qualquer idade. Porém é mais problemático ainda na
terceira idade por conta dos fatores coadjuvantes negativos já mencionados. São
tantos os problemas circunstanciais que interferem na atividade sexual na terceira
idade, e é tão grande a importância da sexualidade na qualidade de vida, que o
aumento da longevidade humana reforça a importância da pesquisa médica,
psicológica e sociológica inerente a este tema. Certamente a sexualidade na
terceira idade virá a ser um capítulo dos mais complexos e de enorme
importância da Gerontologia.
Entre casais idosos, é
usual o julgamento estético recíproco desfavorável dos pares, ao avaliarem-se a
si mesmos e às/aos parceiras/os. Reconhecemos que não é fácil assimilar o
perfil corporal marcado pelo tempo. E como extensão disso, cada indivíduo, cônscio
de haver perdido sua própria silhueta sedutora é assaltado pelo pudor de
expor-se, inseguro, duvidando de ser alvo do interesse do seu par. É óbvio que
o entrave estético é superado pelos casais que conseguiram sustentar,
excepcionalmente, um sentimento de aproximação intenso depois de longa
convivência conjugal.
Como se pode perceber ao
examinar a questão, o companheirismo cúmplice prolongado emoldurado por intensa
afetividade, não obstante excepcional, é seguramente a alternativa mais
completa para a prática sadia e compensadora da sexualidade na terceira idade! Por
outro lado, a experiência recente de um encontro exitoso dos que estão
solteiros nesta fase da vida é tão improvável que se pode comparar a uma
loteria.
Conclui-se de tudo que
ficou dito que a sexualidade na terceira idade é menos erótica do que na juventude,
não obstante é satisfatória e na melhor hipótese tende a ser rica de afetividade
e sentimentos de aproximação numa intimidade gratificante, cúmplice e
confiante. Situação intimamente associada à fortuna de um consórcio conjugal
alicerçado desde o começo por afinidades psíquico-afetivas e culturais.
Everaldo Lopes
[1] A atividade sexual na terceira idade sofre influência tanto da
forma como cada um encara as mudanças corporais inerentes à idade, como de
atitudes e expectativas impostas pela cultura vigente. Para muitos que não
conseguiram despedir-se da valorização física dos atributos da juventude o
envelhecimento do próprio corpo e o da companheira/o é uma agressão à sensibilidade
estética.