quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sexualidade na terceira idade



A ideia que a atividade sexual está ausente na terceira idade é muito difundida. Todavia, a demanda sexual dos idosos sadios diminui, mas permanece. Estatísticas confiáveis revelam que 90% dos homens de sessenta anos continuam sexualmente ativos. Os mesmos estudos dão conta de que 70% dos maiores de setenta e cinco anos e 50% dos nonagenários conservam o interesse sexual, embora apenas 15% dentre eles sejam sexualmente ativos. Segundo estudiosos do assunto, não obstante a redução da atividade sexual na terceira idade, a sexualidade do idoso continua intacta e prazerosa. Certamente a “crença” difundida sobre a negação da sexualidade no idoso deve-se a que vulgarmente considera-se apenas a sexualidade consumada no coito. Esta visão ignora outras práticas que preenchem o conceito científico de sexualidade. A literatura especializada define-a como a “disposição corporal e psíquica para responder com prazer aos estímulos adequados que podem chegar ao coito e ao orgasmo, porém não necessariamente.” Entre os idosos as carícias e toques que satisfazem a libido são práticas sucedâneas que atendem a esta definição. Portanto não se pode negar a sexualidade entre os idosos, apenas por dificuldades eventuais ou persistentes no coito. Não obstante, se a sociedade conserva uma imagem desfavorável do perfil sexual dos que ultrapassaram a meia idade, e as pesquisas estatísticas que mostram uma realidade diferente não são amplamente divulgadas, os idosos se sentem desamparados para manifestar sua libido. Assim, a falsa informação adversa acerca do comportamento sexual humano após os 60 anos ensombrece o ânimo dos homens e mulheres da terceira idade, condenando-os à conformidade, e induzindo-os a esconder seus desejos para não se exporem à crítica pública.   Conduta que empobrece desnecessariamente a perspectiva existencial dos maiores de sessenta anos.
É óbvio que o idoso continua sensível aos padrões de beleza estética da juventude; equivoca-se, porém, ao associar sua sexualidade às práticas inerentes aos anos da adolescência e maturidade física. Este engano seria patético. Mas, a coerência crítica do idoso consciente de suas limitações o protege contra o enleio em fantasias impróprias para sua idade; e o predispõe a conviver com as mudanças inevitáveis do seu comportamento sexual, sem constrangimento diante do envelhecimento do próprio perfil corporal e dos seus pares. A maturidade psíquico-afetiva conquistada com a experiência caminha paralelamente à vivência espiritual da existência, apoiada em valores universais. Isto implica num refinamento da libido que permite admirar a beleza estética do homem e da mulher sem o apelo erótico exigente! 
 É sabido que em ambos os sexos o coito se torna progressivamente problemático com a idade; no homem por dificuldades na ereção, e na mulher pela falta de lubrificação e estreitamento vaginal decorrentes da ausência dos hormônios femininos estrogênicos, após a menopausa. Porém estas mudanças fisiológicas e anatômicas são progressivas, e evoluem com ritmo e intensidade diferentes de um indivíduo para outro.  Quando o problema se torna incapacitante está indicado, opcionalmente, o uso de drogas que prolongam a ereção, e a reposição hormonal cuidadosamente controlada por médico especialista, para anular os efeitos da deficiência estrogênica.  Estas providências podem contornar as dificuldades referidas, mas não rejuvenescem, nem são essenciais para a manifestação da libido; portanto a sua prática deve ser submetida a uma avaliação crítica objetiva da realidade, até porque tais procedimentos só valem a pena quando existe sintonia afetiva na interação do casal.
O comportamento sexual humano sofre influência de fatores coadjuvantes para o melhor ou pior desempenho. Entre estes fatores sobressai a inexistência de parceiro/a por morte de um dos cônjuges, ou separação dos casais. Porém mesmo em relacionamentos oficiais estáveis, muitos casais idosos podem até aparentar sintonia aceitável, mas vivem realmente um distanciamento psíquico afetivo irredutível que equivale a não ter parceiro algum! Este geralmente é o desfecho de um casamento que não chegou a ser um verdadeiro encontro existencial. Como se vê, a atividade sexual na terceira idade sofre muitas influências psicossociais. Mas, também  interferem na sexualidade dos idosos as características biopsíquicas dos pares sexuais[1] e a influência negativa dos transtornos vasculares, decorrentes do Diabetes e doenças sistêmicas mais incidentes nessa faixa etária, obrigando ao uso de medicação específica que influi na resposta sexual.
O aumento da expectativa de vida está fazendo crescer o interesse pelo assunto de que tratamos aqui. Nos últimos 20 anos aumentou o número de idosos que buscam ajuda para melhorar o desempenho sexual. Esta demanda superaquecida tem sido explorada economicamente pela indústria farmacêutica e por charlatães inescrupulosos com ou sem titulação profissional.
Sumariando, o exercício exemplar da sexualidade humana envolvendo fatores biológicos, psicossociais e culturais é problemático em qualquer idade. Porém é mais problemático ainda na terceira idade por conta dos fatores coadjuvantes negativos já mencionados. São tantos os problemas circunstanciais que interferem na atividade sexual na terceira idade, e é tão grande a importância da sexualidade na qualidade de vida, que o aumento da longevidade humana reforça a importância da pesquisa médica, psicológica e sociológica inerente a este tema. Certamente a sexualidade na terceira idade virá a ser um capítulo dos mais complexos e de enorme importância da Gerontologia.
Entre casais idosos, é usual o julgamento estético recíproco desfavorável dos pares, ao avaliarem-se a si mesmos e às/aos parceiras/os. Reconhecemos que não é fácil assimilar o perfil corporal marcado pelo tempo. E como extensão disso, cada indivíduo, cônscio de haver perdido sua própria silhueta sedutora é assaltado pelo pudor de expor-se, inseguro, duvidando de ser alvo do interesse do seu par. É óbvio que o entrave estético é superado pelos casais que conseguiram sustentar, excepcionalmente, um sentimento de aproximação intenso depois de longa convivência conjugal.  
Como se pode perceber ao examinar a questão, o companheirismo cúmplice prolongado emoldurado por intensa afetividade, não obstante excepcional, é seguramente a alternativa mais completa para a prática sadia e compensadora da sexualidade na terceira idade! Por outro lado, a experiência recente de um encontro exitoso dos que estão solteiros nesta fase da vida é tão improvável que se pode comparar a uma loteria.
Conclui-se de tudo que ficou dito que a sexualidade na terceira idade é menos erótica do que na juventude, não obstante é satisfatória e na melhor hipótese tende a ser rica de afetividade e sentimentos de aproximação numa intimidade gratificante, cúmplice e confiante. Situação intimamente associada à fortuna de um consórcio conjugal alicerçado desde o começo por afinidades psíquico-afetivas e culturais.
Everaldo Lopes


[1] A atividade sexual  na terceira idade sofre influência tanto da forma como cada um encara as mudanças corporais inerentes à idade, como de atitudes e expectativas impostas pela cultura vigente. Para muitos que não conseguiram despedir-se da valorização física dos atributos da juventude o envelhecimento do próprio corpo e o da companheira/o é uma agressão à sensibilidade estética.