terça-feira, 22 de novembro de 2011

O homem simples, o intelectual e a sabedoria


O homem simples não reflete sobre a textura lógica do conhecimento, o que não diminui sua capacidade de intuir. O intelectual não está privado da intuição, mas enfatiza o suporte racional do conhecimento intuído. O sábio seja simples ou culto destaca-se pelo equilíbrio das forças vivas da condição humana: a inteligência, o sentimento e a vontade.
O homem simples vislumbra de forma transracional o que é bom, verdadeiro e justo. A sabedoria dos simples é compacta, com suas crenças integralmente assumidas e suas intuições singelas. Sem cogitar os próprios limites, a sabedoria do homem simples se confunde com uma visão abrangente da totalidade que dá significado aos seus elementos constitutivos. Entre os homens simples a tônica é a captação instantânea e completa da realidade. O saber simples ancorado na força da intuição ou da fé independe de uma avaliação sistemática da realidade, para descobrir-lhe o significado.
Diferentemente, a sabedoria dos doutores, se atualiza, penosamente, ao longo dos anos, no esforço consciente da construção racional de uma visão de mundo coerente. Fundamenta-se na integração de conhecimentos singulares, totalizados num saber universal que sabe não ser suficiente para explicar o Universo, e dentro dele o homem. A ênfase entre os doutos recai numa indução laboriosa a partir da observação sistemática dos fatos, e elaboração contínua das informações acumuladas... A cultura intelectual apóia-se na sistematização do conhecimento multidisciplinar da realidade.
A sabedoria seja do homem culto ou do homem simples exige sintonia entre o conhecimento intelectual (racional ou intuitivo), a sensibilidade apurada para o verdadeiro, bom e justo, e a vontade disciplinada. Desta participação equilibrada resulta a plenitude existencial. Sem este equilíbrio não há propriamente sabedoria. A dissociação do que chamei inicialmente as “forças vivas da condição humana” evidenciaria, apenas, em cada caso, ora um intelecto vigoroso, ora uma afetividade refinada, ora uma vontade poderosa... É fundamental o equilíbrio destes pilares da condição humana para a dinâmica do comportamento sábio.
Todavia no ponto de partida, o sábio culto é motivado pela busca da razão de ser do universo em que vive... e o sábio simples pela busca da harmonia do todo no qual está contextualizado. Por caminhos diferentes ambos chegam, porém, a viver, integralmente, o “conhecimento justo e verdadeiro” que os leva a praticar a temperança, a sensatez e a reflexão. O comportamento sensato é o mesmo para ambos, porém o sábio simples está mais arrimado nos fundamentos espirituais da condição humana, mais próximo da paz interior, da realização plena, da felicidade. Sem transigir com o erro, ambos sabem distinguir o pecado, do pecador e assim,  compreende-lo e perdoá-lo.
           
Everaldo Lopes